Sveglia e as paisagens suíças clariceanas
DOI:
https://doi.org/10.18309/anp.v51iesp.1523Palavras-chave:
Clarice Lispector, Tempo, Despertar, Estética, Susan Buck-MorssResumo
Este artigo apresenta um percurso pelas narrativas de Clarice Lispector através do relógio Sveglia, protagonista de “O relatório da coisa”, de Onde estivestes de noite (1974). O texto teve duas outras versões: “Objecto-relatório-mistério” (1971) e “Um anticonto” (1972). Nestes contos o relógio performa uma alegoria temporal: como despertador do agora. Ela toma outras direções a partir de um pequeno detalhe entre as versões: a identificação do relógio de nome italiano com um relógio suíço. Este pormenor destacado por “Um anticonto” proporciona um passeio por outros textos de Clarice, aqueles compostos por cenas suíças e da primavera. Neles um olhar dialético percorre paisagens, retratos e assim são perfiladas as características helvéticas da neutralidade, organização, previsibilidade, frieza, insensibilidade. Estes traços maquínicos consistem na ânsia suíça de manter à distância os sentidos do corpo, os trânsitos daimonicos e coincidem com a “precisão suíça”, expressão idiomática atribuída aos relógios suíços. Essa dura disciplina kantiana e anestética, porém, é quebrada com a primavera e as irrupções sensíveis, imprevisíveis trazidas pela estação. O encontro com as narrativas clariceanas sobre passagens suíças possibilita lançar questões temporais e estéticas acerca do relógio Sveglia como tempo de despertar.
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