Quem pratica crimes contra homossexuais?
A apassivação na representação discursiva sobre a violência contra homossexuais em manchetes jornalísticas digitais
DOI:
https://doi.org/10.18309/ranpoll.v54i1.1628Palavras-chave:
Linguística Sistêmico-Funcional, Transitividade, Análise de discurso crítica, Homotransfobia, Manchetes de jornaisResumo
O Brasil é um dos países em que pessoas homossexuais mais são mortas em contextos de violência (GASTALDI et al., 2021), contudo, tais crimes frequentemente são noticiados na mídia de forma a apagar os agentes dessas violências. Neste artigo, verificamos três manchetes que noticiaram um crime violento e homofóbico ocorrido em Florianópolis (SC), em 2021, objetivando identificar o modo de retratação linguística dos participantes, se por meio de agência ou de apassivação. Para tanto, utilizamos como referencial teórico a Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1994) e a Transitividade (SILVA, 2019) para analisar as estruturas linguísticas empregadas, e a Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1989; 2003; 2008) para compreender a conjuntura da homofobia no Brasil e o modo como o discurso midiático opera as crenças relacionadas a esse tema. Encontramos como resultado que as manchetes selecionadas demonstram a apassivação ao evidenciar a vítima e sua orientação sexual, obliterando os agentes do crime e a motivação homofóbica deste. Consideramos que a mídia se furta do papel de denunciar os agentes da violência e proteger os direitos humanos ao utilizar as estruturas linguísticas analisadas, funcionando como mais uma instância que corrobora o discurso homofóbico e de injustiça, pelos quais a comunidade LGBTQIA+ sofre no Brasil.
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