Utz (1989), de Bruce Chatwin

coleções como autobiografias materiais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18309/ranpoll.v54i1.1860

Palavras-chave:

Chatwin, Utz, Coleções, Listas

Resumo

O artigo trata do tema do colecionismo em Utz (1989), de Bruce Chatwin. Eu leio o fascínio por colecionadores e coleções no romance a partir de duas questões teóricas: (1) podem os objetos envolver tanto um status material quanto um efeito intangível, bem como criar uma narrativa alternativa que nos afastaria da mercantilização, objetificação e patologia? e (2) pode o objeto nos confrontar mais com resquícios de vida humana, com fragmentos de representação do desejo, e menos com o resíduo do trabalho humano? Kaspar Utz é um grande colecionador de porcelana Meissen que as intempéries da história levaram a viver em Praga com seus frágeis tesouros, sob os olhos malévolos de um estado policial. Utz sabe que um colecionador é quase um “teólogo” oculto, e seu relacionamento com os Arlequins e as Colombinas de Meissen tem algo de idolátrico. Utz trava uma guerra silenciosa contra os inimigos que o cerca, contra o ruído de fundo da história, que gostaria de engolir para sempre essas figuras-objetos feitas de uma substância refinada pelo tempo. A vida solitária e maníaca de Utz se tornará um jogo contra esses inimigos, cuja aposta é a própria coleção, um exército de seres que deve ser removido das pontas dos dedos brutais de uma autoridade tirânica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luiz Fernando Ferreira Sá, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

Possui mestrado em Estudos Literários: Literaturas de Expressão Inglesa pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996), doutorado sanduíche em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Columbia University (2002) e pós-doutorado na PUC-MINAS (2006). Atualmente é professor associado 2 da Universidade Federal de Minas Gerais e tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literaturas em Inglês e Literatura Comparada, atuando principalmente nos seguintes temas: os inícios da modernidade inglesa com John Milton e William Shakespeare; poesia renascentista inglesa, pós-modernismo, pós-colonialismo e Salman Rushdie, os espaços liminais das listas em textos literários, Gabinetes de curiosidades (arquivo e coleção). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2.

Referências

ATKINS, Carl D. (ed.) Shakespeare’s Sonnets: With three hundred years of commentary. Madison: Fairleigh Dickinson University Press, 2007.

BAEKELAND, Frederick. Psychological aspects of art collecting. In: PEARCE, Susan (ed.). Interpreting objects and collections (leicester readers in museum studies). London: Routledge, 1994. p. 205-219.

BAL, Mieke. Telling objects: A narrative perspective on collecting. In: ELSNER, John; CARDINAL, Roger (ed.). The cultures of collecting. London: Reaktion Books, 1994. p. 97-115.

BAUDRILLARD, Jean. The system of objects. London: Verso, 1996.

BENJAMIN, Walter. Illuminations. New York: Schocken Books, 1968.

BREDEKAMP, Horst. Machines et cabinets de curiosités. Paris: Diderot Éditeur, 1996.

CARDINAL, Roger. The eloquence of objects. In: SHELTON, Anthony (ed.). Collectors: Expressions of self and other. London: The Horniman Museum and Garden, 2001. p. 23-31.

CHATWIN, Bruce. Utz. New York: Viking, 1989.

DERRIDA, Jacques. Glas. Lincoln: University of Nebraska Press, 1986.

DIKEN, Bülent; LAUSTSEN, Carsten Baggen. The collector’s world. Journal for Cultural Research, [S. l.], v. 24, n. 2, p. 101-112, 2020.

ESCRICHE-RIER, Pilar. New ways of seeing and storytelling: Narration and visualisation in the work of Bruce Chatwin. 2009. PhD (Doctoral dissertation) – Universitat Autònoma de Barcelona, Bellaterra, 2009.

HEPBURN, Allan (ed.). Enchanted objects: Visual art in contemporary fiction. Toronto: University of Toronto Press, 2010.

KAMUF, Peggy (ed.). A Derrida reader: Between the blinds. New York: Columbia University Press, 1991.

KOSUTH, Joseph and DAMSCH-WIEHAGER, Renate (Eds). Joseph Kosuth: No Thing, No Self, No Form, No Principle (Was Certain) Kein Ding, Kein Ich, Keine Form, Kein Grundsatz (Sind Sicher). Stuttgart: Cantz, 1993.

MEANOR, Patrick. Bruce Chatwin. New York: Twayne Publishers, 1997.

MUSIL, Robert. The Man without Qualities. London: Picador, 1995.

PEARCE, Susan. Collecting in contemporary practice. London: Sage, 1998.

PEARCE, Susan. Museums, objects and collections: A cultural study. Leicester: University Press, 1992.

PEARCE, Susan. On collecting: An investigation into collecting in the European Tradition. London: Routledge, 1995.

POMIAN, Krzysztof. Collectionneurs, amateurs et curieux. Cambridge: Polity, 1990.

REES, David (ed.). Bruce Chatwin, Martin Amis, Julian Barnes. London: The Colophon Press, 1992.

RÉGIO, José. Poesia: Obra completa volume I. Lisbon: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001.

SHELTON, Anthony (ed.). Collectors: Expressions of self and other. London: The Horniman Museum and Garden, 2001.

TUTTER, Adele. A man and his things: Bruce Chatwin’s Utz. In: CAMDEN, Vera J. (ed.). The cambridge companion to literature and psychoanalysis. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. p. 145-167.

Downloads

Publicado

2023-12-29

Como Citar

Sá, L. F. F. (2023). Utz (1989), de Bruce Chatwin: coleções como autobiografias materiais. Revista Da Anpoll, 54(1), e1860. https://doi.org/10.18309/ranpoll.v54i1.1860

Edição

Seção

Estudos Literários