As comissões de verdade e a ‘política dos restos’

entre a produção de memórias e a formação do autoritarismo contemporâneo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18309/ranpoll.v53i2.1774

Palavras-chave:

Memória, Restos da ditadura, Autoritarismo, Indígena, Arqueogenealogia

Resumo

A violência contra grupos políticos de resistência efetuada pela ditadura civil-militar é conhecida e, de certa forma, documentada; o que pouco se sabia, especialmente até a instituição das comissões de verdade já no século XXI, é que diversos sujeitos e grupos, historicamente marginalizados e violentados, também sofreram com a repressão ditatorial e ainda sofrem seus efeitos na contemporaneidade, por meio de um conjunto de dispositivos autoritários. Neste trabalho, ancorados nos estudos discursivos foucaultianos e fundamentados no método arqueogenealógico, buscamos: i) analisar e refletir sobre o papel dessas comissões (em especial da Nacional, de Minas Gerais e do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) na visibilização desses sujeitos/grupos e na constituição de uma crítica do presente, suas condições de emergência e seu funcionamento discursivo; e ii) sobre os efeitos da ditadura na atualidade por meio do que denominamos “política dos restos”, focalizando mais especificamente a violência contra indígenas, fundamentalmente marcada no processo de demarcação de terras e na busca de consolidação da tese do marco temporal. Estas discussões estão sustentadas por projetos de pesquisa que visam compreender o processo de institucionalização das memórias daquele período e refletir sobre a formação do autoritarismo contemporâneo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Israel de Sá, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

Doutor em Linguística (UFSCar).

Referências

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório: textos temáticos. v. 2. Brasília: CNV, 2014.

COURTINE, J.-J. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. Trad. Bacharéis em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2009.

COURTINE, J.-J. Déchiffrer le corps. Penser avec Foucault. Grenoble: Éditions Jérôme Millon, 2011.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

FOUCAULT, M. A hermenêutica do sujeito. Tradução Márcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

FOUCAULT, M. Resposta a uma questão. In: FOUCAULT, M. Repensar a política (Ditos & Escritos VI). Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta; tradução Ana Lúcia Paranhos Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 1-24.

FOUCAULT, M. Sobre a arqueologia das ciências. Resposta ao Círculo de Epistemologia. In: FOUCAULT, M. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento (Ditos & Escritos II). Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013a, p. 85-123.

FOUCAULT, M. Sobre as maneiras de escrever a história. In: FOUCAULT, M. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento (Ditos & Escritos II). Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013b, p. 64-80.

FOUCAULT, M. Sobre as maneiras de escrever a história. In: FOUCAULT, M. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento (Ditos & Escritos II). Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013c, p. 64-80.

MINAS GERAIS. Comissão da Verdade em Minas Gerais. Relatório. Governo do Estado. Belo Horizonte: COVEMG, 2017.

RIBAS, Thiago Fortes. Práticas de liberdade em Foucault. Dois pontos, v. 14, n. 1, p. 181-197, abr. 2017. DOI: https://doi.org/10.5380/dp.v14i1.49491

RIBEIRO, Amanda Brandão. Relampejos do passado: memória e luto dos familiares de desaparecidos políticos da ditadura civil-militar brasileira. São Paulo: Editora Unifesp, 2017.

SÁ, Israel de. Os relatórios das Comissões Nacionais de Verdade de Brasil, Argentina e Chile e a inscrição de diferentes regimes de historicidade. In: STAFUZZA, Grenissa Bonvino; FONSECA, João Paulo Ayub da. (Orgs.). Estudos discursivos em múltiplas perspectivas: discurso, sujeito, sociedade. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2019, p. 151-184.

SÁ, Israel de. 'Golpe midiático': processos de formação do enunciado entre os golpes de 1964 e 2016. In. NORONHA, Gilberto Cézar de.; LIMA, Idalice Ribeiro Silva; NASCIMENTO, Mara Regina do. O Golpe de 2016 e a corrosão da democracia no Brasil. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2020, p. 117-137.

SAFATLE, Vladimir. Apresentação. A memória como experiência política. In: TELES, E. Democracia e Estado de Exceção: transição e memória política no Brasil e na África do Sul. São Paulo: Fap-Unifesp, 2015, p. 13-15.

STEPHAN, Claudia. A doutrina de Segurança Nacional de Contenção na Guerra Fria: fatores que contribuíram para a participação de militares na política brasileira (1947-1969). Conjuntura Global, v. 5 n. 3, p. 537-565, set./dez, 2016. DOI: https://doi.org/10.5380/cg.v5i3.50544

TELES, Edson. O abismo na história: ensaios sobre o Brasil em tempos de Comissão da Verdade. São Paulo: Alameda, 2018.

TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

UBERLÂNDIA. Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Relatório II. A face civil da ditadura: o protagonismo das elites e sua dominação socioeconômica. Uberlândia: EDUFU, Comissão Nacional da Verdade, 2017.

Downloads

Publicado

2022-09-06

Como Citar

de Sá, I. (2022). As comissões de verdade e a ‘política dos restos’: entre a produção de memórias e a formação do autoritarismo contemporâneo. Revista Da Anpoll, 53(2), 160–175. https://doi.org/10.18309/ranpoll.v53i2.1774

Edição

Seção

Por uma análise foucaultiana dos discursos